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A arte homoerótica e ultra fetichista de Tom of Finland


A arte homoerótica não seria a mesma sem o trabalho de Touko Laaksonen, que no ano de 1957 ficou conhecido como "Tom of Finland". Nascido em 8 de maio de 1920 na costa sul da Finlândia, Touko Laaksonen se interessou desde cedo pelos homens que trabalhavam nos campos e florestas: fazendeiros e lenhadores eram homens que carregavam a aspereza e a selvajaria do campo. Filho de pais professores, Touko foi criado em uma atmosfera de arte, literatura e música. Aos cinco anos, tocava piano e desenhava tiras em quadrinhos. Ele amava a arte, a literatura e a música, mas amava ainda mais aqueles homens rudes. E justamente aos cinco anos, sua sexualidade foi aflorada pela curiosidade a respeito de um vizinho, um garoto musculoso que trabalhava numa fazenda cujo nome, Urho, significa "herói". Urho foi o primeiro de uma série de heróis que tiveram a atenção de Touko.

Touko foi para a escola de arte em Helsinki, para estudar propaganda no ano de 1939 e sua fascinação se expandiu ao incluir em seu imaginário os tipos sensuais da cidade, encontrados no porto cosmopolita: trabalhadores das construções, marinheiros e policiais, mas sua vida sexualmente ativa, teve início quando Stalin invadiu a Finlândia e Touko, usando um uniforme de tenente, encontrou o paraíso nos "blackouts" da Segunda Guerra Mundial. Nas ruas escuras da cidade, começou a se relacionar sexualmente, da maneira que havia sonhado: com homens uniformizados cuja luxúria ele veio desenhar mais tarde, especialmente soldados alemães, que chegavam com suas jaquetas e botas. Essa experiência, refletiu expressivamente em seu trabalho, mostrando uma imagem máscula da fantasia homossexual juntamente ao fetiche pelo couro, traduzido nos uniformes dos soldados e motoqueiros de suas ilustrações.

Touko Laaksonen, que no ano de 1957 ficou conhecido como "Tom of Finland"

Depois da guerra, Touko voltou a estudar arte e a ter aulas de piano no afamado Instituto Sibelius. Mas a paz do pós-guerra colocou um fim no sexo do "blackout" e os uniformes se tornaram raros novamente. Então, Touko voltou à sua prática de adolescente, trancando-se nu em seu quarto, masturbando-se e desenhando no papel aqueles que gostaria de encontrar nas ruas. Durante o dia, ele trabalhava como freelancer com desenho para propaganda e moda. À noite, ele tocava piano em festas e cafés, tornando-se assim um membro popular da boêmia do pós-guerra de Helsinki. Evitava frequentar a cena gay que despontava na cidade porque o que chamavam de bares artísticos, era dominado pela homossexualidade extravagante, típico daquela época. Enquanto isso, viajava freqüentemente, tornando-se cada vez mais conhecido nos locais gays das grandes cidades. Em 1953 ele conheceu Veli, com quem viveria os próximos 28 anos, numa esquina a alguns quarteirões da sua casa. No final de 1956, Touko mandou seus desenhos secretos para uma popular revista americana de homens musculosos, tendo o cuidado de usar o pseudônimo Tom. O editor se interessou e a capa da edição de primavera de 1957 trouxe um lenhador sorrindo, desenhado por "Tom of Finland". Foi uma sensação. Touko se tornou Tom e, a partir de então, o resto se tornou história.

Tom ficou realmente famoso a partir do ano de 1978, quando viajou para a América e expôs sua arte em Los Angeles, San Francisco e Nova Iorque. Se a arte erótica ou a arte homoerótica não eram bem pagas nos anos 50, os anos 80 em diante foram determinantes para lançar a arte de "Tom of Finland": pós liberação e hedonismo sexual das décadas de 60 e 70 e em plena epidemia da AIDS na década de 80, seu trabalho tornou-se foco de devoção. 


Tom of Finland morreu de enfisema em 7 de novembro de 1991. Deixou uma obra sem precedentes, responsável pelo crédito importante na mudança da auto-imagem do mundo gay. E se na época de sua primeira publicação os homossexuais eram vistos como simples imitações das mulheres e buscavam viver, não raro, no anonimato, as imagens viris e fetichistas de Tom, através de detalhes foto-realísticos e fantasias sexuais selvagens, criaram por definitivo um novo perfil do homem gay, que permeou o inconsciente coletivo durante décadas, até os dias atuais. No ano de 1986 foi criada a Fundação Tom of Finland, organização sem fins lucrativos, com a proposta de documentar o trabalho do artista ao longo de seis décadas de arte erótica masculina e que hoje, inclui em seu acervo todas as áreas de arte erótica. 



Hoje, considerado o pai do fetichismo gay, a estética da arte de Tom é amplamente discutida por estudiosos e militantes que pregam a diversidade. Concordo plenamente, pois o apetite sexual de cada um depende de suas referências e vivências. Ainda assim, há de separar o fetiche da vida real. E obviamente que o trabalho de Tom of Filand pode ser considerado cool, acarretando milhares de produtos, exposições e bibliografias.



tomoffinland.com
tomoffinlandfoundation.org

artsy.net/artist/tom-of-finland
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