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#ENTREVISTA | Blog NLDJ apresenta entrevista exclusiva com a artista Helloa Meirelles!

Helloa Meirelles na XV Parada do Orgulho LGTTB de Campinas. Foto by Anderson Torres.

Quem vê Orlando Hélio de Oliveira, não dá para imaginar que existe um artista por trás do tímido Técnico de Enfermagem. Com 26 anos de carreira, Orlando é um dos principais ícones da cena GLS atual. Parte de um seleto grupo, a dedicação é uma de suas virtudes e a longevidade de sua profissão de drag-queen e apresentadora pode ser resumida em uma única palavra: talento. Dos shows da Double Face e The Club nos anos 90, apresentações em programas de TV, turnês, da caricatura ao glamour, Orlando assume o papel de Helloa Meirelles e nos mostra que a figura da drag-queen, ainda tem total relevância na cultura LGTTB. Atualmente, como a principal artista do casting de shows do Club Subway, Helloa é a MC oficial do "Let´s Mix", concurso de DJs que rola toda sexta-feira no club! De Apucarana, Paraná, para o mundo, conheça a artista Helloa Meirelles em entrevista exclusiva para o blog NLDJ!     

NLDJ: Vamos falar de história: como surgiu a vontade de se montar?

HELLOA MEIRELLES: Minha primeira vez foi uma brincadeira, na festa de um ano de um relacionamento que tive..... Só na brincadeira, peguei um lençol, montei um vestido e surgiu Helloa.

NLDJ: De onde vem esse nome?

HELLOA MEIRELLES: Um amigo me deu o nome de Helloa, que era uma personagem da Regina Duarte em uma novela da extinta TV Tupi. Naquela época era chic ter sobrenome e depois de muitas opções, acabamos por Meirelles. Daí ficou Helloa Meirelles.

NLDJ: Como foi e quando aconteceu a sua primeira apresentação profissional?

HELLOA MEIRELLES: Foi no primeiro concurso de novos talentos da Double Face, no final do ano de 1989. Fiquei em terceiro lugar no concurso. Daí não parei mais.

NLDJ: Você encara a "montação" de uma forma bem profissional na questão de elaborar um look, uma performance. Mas voltando um pouco no tempo, lá no início de sua carreira: Como eram as drags? E como era a Helloá?

HELLOA MEIRELLES: Comecei fazendo shows, não era apresentadora, minhas referencias eram as travestis que faziam sucesso na época: Duda Larru, Jaqueline Gruchenco, Crishina, etc. Daí eu tentava ser o mais feminino possível, fazendo sempre a linha transformista. Mas o começo foi muito difícil, perto delas, que já eram harmonizadas, etc, eu era um homem vestido de mulher. A partir daí foi surgindo as drags, que são homens vestidos de mulher no exagero, coisa em que eu me encaixei muito bem.

NLDJ: Me lembro de shows na Double Face em que se juntavam no mesmo palco Transformistas, Travestis e Drag Queens. Qual era a sua percepção, já que o público, anteriormente, não notava muito a diferença?

HELLOA MEIRELLES: A Double Face foi um templo gay onde muito se aprendeu, tanto o público aprendeu a diferenciar os shows, como também nós, artistas, aprendemos a fazer estilos diferentes para agradar o público. Ali muito se criou e se copia até hoje.

NLDJ: Você acompanhou a evolução da drag-queen na noite GLS. Hoje, qual a diferença mais significativa da representatividade deste personagem na noite?

HELLOA MEIRELLES: Infelizmente se banalizou muito o personagem. Na época, drags eram vistas como palhaços de luxo, artistas que subiam no palco pra passar alguma mensagem ou simplesmente a alegria de ser ou estar. Hoje, na sua maioria, com exceções é claro, querem simplesmente ficar bonitas, se parecer o mais possível com mulher e dar o tal do CLOSE que tanto falam. Se perdeu o profissional, o artista, a mensagem a ser passada.

NLDJ: Quais foram os talentos que você já revelou na cena? E hoje, quem você destaca como uma grande revelação?

HELLOA MEIRELLES: Olhaaaaaa, (rsrsrsr), já tive 13 filhas...Todas Meirelles, todas que eu ajudei no início. Entre elas, algumas que ainda estão por aí como Joyce Meirelles, Junia Fashion, Prety Lupon, Hallifer Oliveira, Leslie Oliveira, etc. Mas fora filhas, já ajudei muita gente no início, inclusive, grandes estrelas que hoje mau me cumprimentam...(rsrsrsr)...Das revelações do momento, na minha opinião, quem tem um grande talento e ainda vai muito longe é a Natasha Sahar.

NLDJ: Grandes produções já foram encenadas em palcos de clubs aqui na cidade de Campinas. Já vi você sendo carregada para o palco como uma rainha. A cidade já foi berço de grandes talentos e até mesmo referência para a capital. Todo club de sucesso tinha um show de drag. Conte-nos um pouco sobre essa fase...

HELLOA MEIRELLES: Os shows montados, muita gente não sabe, mas o primeiro show montado de Campinas foi na Double Face e se chamava "Do Jeans ao Paetê" criação e direção da saudosa Colibri. Agora os shows montados, mega produções foi na The Club, a boate nos dava um espaço e dinheiro para produzir, daí arrasávamos na criatividade e ganhamos muitos concursos, inclusive, competindo com boates famosas de São Paulo. Foi uma fase maravilhosa, as boates investiam em shows, produzíamos e viajávamos para todo Brasil levando esses shows que eram verdadeiros SHOWS TEATRAIS. Como por exemplo, o espetáculo "CABARÉ", produzido pela The Club, que levei para Brasília e para Curitiba. Foi uma época maravilhosa.

NLDJ: Anteriormente as drags eram mais presentes nos clubs. Vejo que você ainda prega essa tradição. Chega "montada" e na hora do show, é um look totalmente diferente. E depois, continua "montada". Qual justificativa você daria para profissionais que focam apenas na performance de palco?

HELLOA MEIRELLES: Eu penso que a partir do momento que saímos de casa montadas já começa o show, por onde você passa chama a atenção, quem está alí não é o Orlando e sim a Helloa, e a Helloa é show. As pessoas gostam de tirar fotos, conversar, pegar um pouco daquela energia que passamos no palco A performance no palco é um complemento de todo o show. Já fui contratada várias vezes apenas para fazer presença, porque a imagem de uma drag já passa uma mensagem, DRAG É ALEGRIA, LUXO, SIMPATIA, COR, AMOR E TUDO DE BOM!

NLDJ: Você já se apresentou em muitas cidades e até mesmo fora do país. Como foi este momento da Helloa?

HELLOA MEIRELLES: Nessa época para mim, diferente de hoje, que faço por hobbie, ser HELLOA era profissão. Por isso fui para a TV: "Clube do Bolinha", "Raul Gil", "Silvio Santos", etc. Ganhei muito dinheiro com a televisão e aproveitei isso para viajar por todo o país. Viajei muito, de norte a sul. Já cheguei a viajar 16 horas de ônibus para fazer um show e voltar. Na época, não se pagava avião, era muito caro, daí a gente aproveitava para cobrar mais caro. Quanto mais longe, mais caro. Daí surgiu a oportunidade de ir para a Europa. Fui para a Espanha e fiquei lá por cinco anos. Trabalheeeiiii muitoooo, fiz meu pé de meia, comprei alguns imóveis e voltei. E voltei porque não existe melhor lugar do mundo pra se viver que o Brasil. Afinal de contas, apesar de todos os problemas, AQUI É MINHA CASA QUE AMO.

NLDJ: Como é se apresentar fora da estrutura de um club, de um palco fechado? Por exemplo, em Paradas? Qual é a diferença e como você se prepara?

HELLOA MEIRELLES: Um artista tem que estar preparado pra tudo, tem que estar preparado até pra se apresentar sem musica.... de qualquer jeito o show tem que continuar, já me apresentei em palcos maravilhosos e em palcos pequenos de madeira, pra mim é tudo igual, tento fazer o meu melhor, conquistar o publico que pode ser de 10 ou de 100 mil pessoas, não importa..... como já disse, a partir do momento que saímos de casa já somos o show e temos que dar nosso recado.

NLDJ: Além da versatilidade de apresentadora, você passa pelo glamour, pelos clássicos e pela androginia. Como é esse atributo de se reinventar sempre?

HELLOA MEIRELLES: Eu sempre disse que se eu não fosse apresentadora, eu já teria parado. Apresentar um show, falar no microfone é o que mais gosto de fazer. Fazer as pessoas rirem, brincar, adoro, mas também sou da opinião que se você quer ser uma artista, não pode ficar parado, se acomodar em algo que está dando certo. Eu poderia simplesmente fazer apresentação, entrar no palco, pegar o microfone e apresentar, mas daí eu estaria me sentindo incompleta. Adoro ousar, adoro surpreender as pessoas, meu público nunca sabe como a HELLOA vai estar na próxima semana ou no próximo show, adoro isso.

NLDJ: Como é a Helloá na vida real?

HELLOA MEIRELLES: É o Orlando, Técnico de Enfermagem, calmo, tranquilo, tímido, que adora música brasileira...Um rapaz normal...rsrsrs...

NLDJ: Qual situação mais embaraçosa que você já passou nos palcos?

HELLOA MEIRELLES: Já passei por tudo que você imagina...Então, em 26 anos de carreira, escolher algo que mais tenha sido embaraçoso fica difícil...Mas já caí no palco, já me atiraram gelo na cabeça, salto já saiu do pé, peruca saiu da cabeça, neca desaquendou e por ai vai...rsrsrsr...

NLDJ: Qual a situação mais emocionante que você já passou nos palcos?

HELLOA MEIRELLES: Tem algumas coisa que me marcaram sim. Uma homenagem que me fizeram em Limeira há muito tempo atrás, minha despedida do Brasil quando fui embora pra Europa, minha despedida da Europa quando voltei pro Brasil, o ultimo réveillon que fiz a contagem regressiva na The Club...Momentos inesquecíveis...Ver pessoas chorando pela Helloa ainda, até hoje pra mim é estranho e quando pergunto porque do choro elas falam que é por causa de minha energia...Fico feliz por conseguir passar essa energia positiva pras pessoas, feliz mesmo.

NLDJ: Para finalizar: Qual conselho você daria para quem começa hoje? Para as novatas?

HELLOA MEIRELLES: Faça com o coração, passe uma mensagem, transmita uma energia, utilize o palco ou o espaço que te derem pra transmitir coisa boa...Tudo que você transmite para o público volta pra você em dobro, é a lei do universo...Faça o melhor que você puder fazer, e quando não conseguir fazer, peça desculpas. Seja humilde, não se esqueça que por mais estrela que você consiga ser nos palcos, logo depois, em casa, quando você tira a make, tira a peruca, você volta a ser uma pessoa normal, igual aquelas todas que te aplaudiram. Não se esqueça que o mesmo espelho que te vê maravilhosa, maquiada e linda, logo mais, vai te ver de cara limpa, sem máscara e te garanto que é muito gostoso olhar no espelho de cara limpa e mesmo assim sentir orgulho de si mesmo.

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