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#ENTREVISTA | Cesar Machia: "Hey Mister DJ!"





Profissão: DJ, uma das mais resquisitadas e evidentes da cena noturna. O DJ praticamente controla, configura e formata a noite de uma boate seja ela gay ou não. Muitos podem adorá-lo ou detestá-lo. Uma coisa é fato: os anos 90 tornaram o DJ um superstar e seu status hoje é almejado por muitos. Quem não gostaria de ter este hype? Ninguém melhor do que um dos DJs mais respeitados e experientes de Campinas para falar - e chocar - sobre a tal profissão que atualmente anda tão em evidência.


Com vocês, o DJ Cesar Machia!

NA LÍNGUA DO JU - Como iniciou sua carreira de DJ?

Cesar Machia: Nossa! nem sei quantas vezes eu ja respondi essa pergunta, mas vamos lá!
Por volta de 1986, 1987, eu frequentava o extinto Club Mafe em Americana, época também que a House Music começa a ganhar força aqui no Brasil. Na época o Club Mafe foi vendido pra uma equipe de som de SP que o modernizou trazendo DJs (que até então eram chamados de "o cara do som") e renovando o equipamento. Fiquei curioso pra saber como o tal DJ conseguia tocar uma música em cima da outra na mesma batida. Até então eu imaginava que tais montagens só poderiam ser feitas em estúdios. Depois de muita tietagem em cima dos "caras do som" eles me deixaram ver os toca discos. Foi o suficiente. Vi que ao fazer a mixagem, o DJ alterava minuciosamente um botão deslizante que controlava a velocidade do prato dos toca discos (pitch) sem que o público percebesse que a música estava com a velocidade acelerada ou retardada. Desci da cabine de som e fui pra casa na hora, no meio da noite, e desmontei um velho toca discos que eu tinha atrás do "botãosinho mágico" que regulava a velocidade do motor do prato. Num deu outra. Achei um potênciometro que fazia exatamente o que o tal "pitch" das Technics fazia. Liguei um radio gravador com uma fita de house music e coloquei no toca discos um LP com a versão extended remix de "Always On My Mind" e ja sai mixando. A partir de então eu não parei mais. Eu já fazia som em festas e centros comunitários do bairro, foi só aprimorar os conhecimentos que eu ja tinha de equipamentos de som e em 1990 eu comecei a tocar profissionalmente na "Over Dancing" em Nova Odessa.

NLDJ - Qual o seu estilo e atualmente, nas pistas das boates gays, qual o estilo vigente?

Cesar Machia: Meu estilo é baseado no som que o DJ Júlio César fazia na extinta boate "Sintonia" aqui em Campinas. Quando ouvi o som dele pela primeira vez, me apaixonei pelas mixagens longas e entradas bruscas. Os pedais do som do Júlio César empolgavam a pista, todas as músicas batiam mais forte. Resumindo: indescritível. Só quem viveu as noites da Sintonia de 1988 a 1990 terá noção do que eu estou dizendo. Sou fã dele até hoje. Meu estilo sempre foi House Music e acredito que é o mesmo estilo da maioria dos DJs. A House Music já passou por muitas variações. Grosseiramente falando acelerou e virou Techno, ganhou novos elementos e virou Trance, perdeu elementos e virou Progressiv-House, Hard-House, ganhou outros elementos e virou Tribal, virou Garage, virou Deep-House, virou Groove-House, virou Tribal-Trance, virou Dark-House, virou Dark-Tribal, virou Speedy-House, virou Psico-Trance, virou a "PQP-House", etc (risos!). Mais recentemente voltou a usar as suas bases dos anos 80 e 90 com a vinda do Electro que depois virou Electro-House e que também já cantou pra subir. Acredito que o Tribal é a variante da House Music preferida das boates gays nos últimos 5 anos.

NLDJ - É possível o DJ mostrar conceito nas pistas?

Cesar Machia: Sim, desde que haja toda uma infra-estrutura por parte da casa que você está tocando. Exemplos disso: Por mais de 6 anos a The Club ditou o conceito músical das noites de muitas boates Gays da região pelas mãos dos DJs Ricardo NB, DJ Dudu, Johnny Marcello e eu nos últimos 4 anos.Tenho orgulho de ter sido um dos primeiros DJs a criar e lançar músicas e versões exclusivas de uma boate Gay. A The Club perdeu toda essa imponência depois que administração perdeu as rédias do negócio. A boate sucateou, perdeu o glamour, idéias erradas foram instaladas na casa, o publico hétero começou a invadir e afastou o publico gay mais discreto e elegante, reformas erradas foram feitas, sem contar com atitudes de extremo mau gosto da administração que inventaram a tal da "ducha erótica" que começou arrastar uma quantidade enorme de mulheres hétero pras boates gays devido a exposição exagerada dos go-go boys. Entre outros erros, a distribuição inadequada de cortesias, flyers de mau gosto, cortes estúpidos nas verbas dos shows, falta de investimento em relação ao conforto do público como: areas VIP's, sofas, iluminação ambiente, o sistema informatizado de cobrança que também sucateou, atendimento do bar, cardápio, etc...Enfim, a boate definhou e com ela tudo que havia dentro. Quando chega a esse ponto os administradores começam a procurar nos outros a culpa dos seus erros : os culpados da boate estar ruim são os atendentes dos caixas, ou então os são os shows, ou os boys, mas os principais culpados da administração incompetente sempre são os DJs. Eles dizem : "...o som dos DJs está péssimo, só estão tocando músicas que ninguém conhece..." ou então "...onde ja se viu tocar essa música velha aqui, por isso que o publico sumiu...", e até "...vamos trocar os DJs, é por culpa deles que ninguém mais vem aqui...". Nesse caso fica muito complicado mostrar ou lançar qualquer tipo de conceito de noite. Um "conceito" engloba tudo numa casa noturna, não só o som e sim um conjunto : som, bom atendimento, glamour, estilo, flyers, publico alvo, etc. 

Há dois anos atras veio a Ultralounge trazendo um conceito que, dentro da visão dos idealizadores, seria novidade. Na verdade eles tentaram trazer de volta tudo que já existia aqui em Campinas desde a época da Sintonia. Mas também acabaram caindo nos mesmos erros. A decoração deles nunca foi acabada, os banheiros começaram a desmontar sozinhos, a limpeza ficava a desejar com mesas cheias de pó e carpetes colando de chiclés, o atendimento informatizado nunca foi implantado, os barmen eram lindos mas o atendimento era péssimo com espera de até 15 minutos pra se conseguir uma cerveja quente, filas lerdas para entar na casa e enormes para sair, nos primeiros meses os flyers eram tudo de bom mas também sumiram, fora os famigerados VIP's, etc... Alias, essa onde VIP é a principal causadora da falência da noite gay campineira e região.Também começaram uma campanha contra as músicas com vocais femininos determinando-as como "Drag Music". Pois bem, nas primeiras duas horas de funcionamento da casa nos finais de semana tudo era hard-house e electro-house, e a pista no truque. Mas depois de um certo horário a tal drag music saía dos cases dos DJs e Madonna, Deborah Cox, Shakira, começavam a cantar, Britney, Despina Vandi e Christina Aguilera começavam a sussurar, Donna Alen, Deborah Cooper e Katrina Ruize começavam a gritar feito loucas e a Whitney cheirando até o talo da (meu pai, ainda tem gente civilizada que pede isso?) "Try It On My Onw". A essas alturas, ja era o tal"conceito". Com isso tudo eu é que pergunto: Será que é possível o DJ mostrar conceito nas pistas?

NLDJ - Nas picapes qual é o seu envolvimento com o público?

Cesar Machia: Pergunta dificil. Eu poderia responder com um monte de lorotas que a maioria dos Djs responde: "É maravilhoso meu envolvimento com o público, tento criar um ambiente de modernismo e sensualidade na pista tocando o melhor da House Music transcendendo os limites da música eletrônica remetendo o público a um ecstasy esperitual... blá, blá, blá, blá, blá..."

Bahhh...ou então responder assim :

"Quando começo a tocar, me entrego a energia que emana da pista sentindo a vibração do público onde nos tornamos um só ser entrelaçado entre as batidas da música e a luz que envolve todo nosso corpo...pi rí rí...pó ró ró..."

Me perdoem os outros DJs, mas são raros os DJs aqui no Brasil que conseguem essa façanha, mas não por que são DJs ruins, mas por que a maior parte dos frequentadores das boates GAYS hoje em dia nem sabem o que o DJ tá fazendo na cabine de som. Num sabem se ele está tocando com vinil ou CD, se é fita k7 ou MD, se é fita de rolo ou DAT. Eles estão pouco se lixando. O público hetero frequentadores de Raves atualmente têm dado mais valor realmente ao trabalho dos DJs qualquer que seja o estilo deles. Quem ainda toca com vinil nas Raves é mais reverenciado e o público está sempre com os ouvidos afiados prestando atenção nas "viradas". Se o DJ "sambar" feio numa Rave pode ter certeza que ele será vaiado, esteja ele tocando com vinil ou CD. Já nas boates eles só lembram da "sua mãe" quando o CD ou o vinil pulam. Eu diria que pra que haja um envolvimento do publico com o DJ, é necessário que o público respeite e preste atenção realmente no que o DJ está tentando transmitir. Cabe a cada um dizer depois se gostou ou não do som de determinado DJ. Se você gosta do meu som, frequente a minha pista, se vc não gosta, preste atenção no som dos outros DJs e frequente a pista do DJ que você gostar mais. É simples! Mas a coisa não funciona assim, se vc não agradar, ou tentar, um pouco cada cliente que está na boate você será taxado como um mau DJ. Ou vc toca o que eles querem ouvir ou eles te detonam nos e-mails ou nos fóruns dos sites das boates como aconteceu comigo e com o DJ Ridardo NB no forum do site da The Club e mais recentemente com o DJ Rodrigo Lima no forum do site da LoungeDeluxe.

Esse tal "envolvimento" com o público acaba ficando assim:

"Ou vc toca os fubás que queremos ouvir ou paramos de dançar".

Resultado : Pista vazia + pouco consumo no bar + patrão insatisteito = DJ desempregado.

Que nos da a fórmula : PV + PCnB + Pi = DJ.D² (risos).

5 - É chato pedir músicas para o DJ?

É uó!

Acaba caindo no problema do envolvimento do DJ com o público.

Você tem que ser meio "camicase" pra tentar enfiar uma música nova no set hoje em dia. A maior parte dos DJ's anda esperando os DJ's mais corajosos fazerem isso pra que determinadas músicas "peguem" na pista ou que tais músicas comecem a tocar no rádio. Isso acontece por que os DJ's acabam tendo medo do desemprego (PV + PCnB + Pi = DJ.D² ). Isso resulta em DJ's que tocam set's praticamente iguais durante meses e um público mau acostumado.

Nos Estados Unidos e na Europa - digo nas grandes Venues e Clubs e não nas boates chinfrins que as companhias de turismo levam os turistas - é considerado "falta de educação", é um "grande mico" você atrapalhar o trabalho de um DJ. Já aqui no Brasil uma boa parte da clientela se usa da celebre frase "...eu to pagando e o DJ tem que tocar o que eu quero...". Tudo bem, ele não está errado, o cliente está comprando esse produto da boate e tem todo o direito de exigir o que quer ouvir; só que isso é egoismo, afinal ele não está sozinho na pista e dança. O que não entendem é que o produto vendido é o som do DJ no geral, não uma ou duas músicas que as vezes só ele quer ouvir.

Se for pra ser assim, então que mandem todos os DJs do mundo pro Hawaii (a loca!!!) e coloquem jukeboxes nas boates ou então deixem uma pasta com 500 CDs de mp3 com todos os ritmos e estilos na cabine e organizem uma fila pra que cada cliente escolha e coloque ele mesmo a música que quer ouvir.

Já pensou???

Mesmo que os DJ's toquem tudo que é sucesso (fubá) a noite toda, sempre tem uma amarga que vai até a cabine pedir a pior música do mundo. A partir dai você tem duas opções:

- Primeira : Diz pro "sem educação" que a música que ele tá pedindo é uó e enfrenta prováveis crises de "eu vou reclamar com o gerente", "toca agora que eu to indo embora", "eu conheço o dono da boate e ele disse pra você tocar", etc. E essas são apenas as frases sem teor ofensivo. Mas o pior de tudo é quando jogam um papelzinho com uma listinha de músicas (todas de rádio e fubá) em cima do mixer e ficam do lado de fora da cabine olhando pra sua cara pra terem certeza de que você leu o papel. Alem de ser uma baita falta de educação eles também esquecem que o tal papelzinho poderia cair em cima do toca-discos e entrar embaixo da agulha o que resultaria um ruído horrível de agulha riscando o vinil e pelo menos 10 segundos sem som na pista. Isso é uma falta de respeito com o profissional, afinal de contas eu não exijo que um vendedor de uma loja de roupas de um Shopping me venda um kilo de frango ou quando vou ao mercado, não jogo a lista de compras dobrada na cara de um atendente e digo "se vira". A boate e o som do DJ é a mesma coisa, quando você entra está comprando um produto pronto, se você não gosta desse produto, não compre, vá pra outra boate, compre outro produto que lhe agrade mais. É o direito de escolha que todos os consumidores tem, uma pena que os freqüentadores de clubes jamais pensarão dessa forma.

- Segunda : Toca a música uó que a mona pediu, ela fica contente, pega seu o cachê no final da noite e que se foda o resto. Engole duro o fato da mona ter jogado titica nos seus 15 anos de noite e horas semanais de pesquisa musical e tenta ser feliz.

Me desculpem se estou rasgando o verbo, mas o que estou dizendo aqui, acredito, seja também a opinião de 95% dos DJs. Sempre tratei todos que vão à minha cabine muito bem, mas é isso o que realmente acho.

NLDL - Você é assediado?

Cesar Machia: Raramente. Talvez se eu puxasse ferro e tomasse umas bombas o assédio aumentaria, afinal a era dos Go Go DJs também virou moda e eu estou solteiro. Mas eu prefiro investir mesmo é em boa qualidade musical apesar de tudo. Acho que continuo sendo meio "Kamicase".

NLDJ - Como você define a cena atual?

Cesar Machia: Razoável. O único lugar que você encontra uma cena fixa e dramatica é a Double Face. Você sempre sabe que estilo de som vai ouvir ao chegar lá. O som do DJ Diógenes é fantástico. Viradas arrepiantes e criativas, músicas sempre atualizadas, Tribal e Club House de primeira, fora os seus remixes exclusivos bárbaros. O melhor DJ tocando na noite gay de Campinas atualmente na minha opinião. Sendo o DJ fixo da Double Face o Diógenes tem todo o apoio dos proprietários pra manter a cena. As sextas como a Double não abre, o Diógenes está começando a criar a mesma cena na Subway.

Não posso deixar de comentar também os ma-ra-vi-lho-sos sets do DJ Marcelo Saturnino na LoungeDeluxe ás sextas. Ele toca House finissimo com viradas clássicas e sutis pra quem gosta de dançar sem se arrebentar todo na pista. É um som para donos de ouvidos apurados. Vocais suaves, guitárras e baixos clássicos, muitos samplers de sucessos dos anos 70 e 80, tudo isso misturado com a velha e boa batida House. Enfim, para poucos notáveis. Pena que ainda não se fixou como uma cena forte, e boa parte do público ainda num tem educação suficiente pra um som de tanta qualidade como o do Marcelo Saturnino. Mesmo pra ele, DJ de gosto refinadissimo, sempre tem uma que pede a porra da "Try It On My Own".

NLDJ: Em termos de referências musicais, de cultura de noite, como você define o público atual?

Cesar Machia: Equivocado. Ta difícil convencer o público atual a ouvir música boa. Num sei se é por causa da correria do dia a dia, stress, falta de dinheiro, etc...Mas o público não sai mais pra noite pra se divertir com a mesma intensidade que saiam há 10 anos atrás. Antes da invasão dos heteros, as boates Gays eram mais divertidas, as mulheres que freqüentavam não eram tão abusadas, mas eram mais divertidas, aliás eram as famosas "bichas que deram certo". O som era mais atual e os gays exigiam isso. Hoje eu acho que ta tudo muito "pop". A onda "mix" não dá certo e os proprietários não estão vendo isso. Não existe mais a febre dos sábados a noite como era a Sintonia, a Fama, a Madame X e o The Club, que fazia festas absurdas e o público comparecia em peso. A "The Furture Night" por exemplo que aconteceu em Setembro de 96 foi um escândalo. A boate toda apagada iluminada apenas pelos sinalizadores fluorescentes que foram distribuídos pro público. Esses sinalizadores do tamanho de um frasco de Cuba, tinham um cordão que permitia que as pessoas os girassem no ar. A visão daquilo era estonteante. Tudo isso ao som de Carl Cox, Josh Wink, Yves Deruither, Ian Poley, Vicious Circus, e a famosa Born Sllipy do Underworld que foi lançada em primeira mão em Campinas nessa noite pelos DJs Ricardo NB e Dudu.

Os set's: até as 4 da manhã : House e Tribal, após as 4 : Techno pesado. Outras festas marcantes: Grand Circus Club, Animale, Alien Lights, Homo Total, Jungle Games, etc e as tradicionais Carna Club, Halloween, October Club, Independence Gay, Hawaii Is Here, Paula's Birthday e muitas outras. Mas o fator determinante das noites da The Club era o som sempre atual.

Ouvi dizer que agora alguém da "moda" disse que é "chic" ouvir Tatty Quebra Barraco. Se ouvir isso é ser chic e estar "na moda", me perdoem mas quero morrer brega.

NLDJ: Sobre os seus remixes exclusivos, como você trabalha, quais são os seus critérios e como são vistos pelo público?

Cesar Machia: Hoje em dia qualquer um pode baixar músicas pela internet, montar uma pastinha com 30 CDs dentro e sair de porta em porta nas boates se oferecendo pra tocar. O foda é que esse batalhão de pseudo-djs que apareceram estão desvalorizando a classe, pois no afã de "aparecer" na cabine de som e tocar o que eles bem entendem, acabam fazendo isso por quantias simbólicas e as vezes até mesmo de graça. O problema maior é a qualidade ruim do serviço alem do lance dos fubás. Se um dono de boate pode pagar apenas R$ 30,00 ou R$ 40,00 pra um fulano desses, por que ele pagaria R$ 200,00 pra um profissional tocar as mesmas músicas? Alem do que R$ 200,00 já é um valor ultrapassado pra DJs profissionais. Vivemos exclusivamente pra isso e o custo disso não é barato. Façam as contas : internet banda larga = R$ 210,00; CD's (pelo menos 50 por mês) = R$ 50,00; fone de ouvido profissional = R$ 700,00 ( e torce pra não queimar, se queimar é mais R$ 100,00 pelo conserto); pasta Case Logic importada pra 200 cd's = $ 120,00 (dólares); energia elétrica (computador ligado 24 h) = R$ 185,00; transporte = + ou - R$ 100,00 (taxi - ou você acha que eu vou atravessar a cidade a noite carregando um case de CDs e um fone de ouvidos carissimo?); fora as contas normais que todos têm como telefone, água, aluguel, despesa, roupas, sapatos, etc. E mais. Não trabalhamos apenas nos finais de semana como todos pensam, passamos a semana lendo quilômetros de paginas html e sentados na frente de um computador como qualquer pessoa que trabalha num escritório.Ou você acha que as informações são implantadas no meu cérebro enquanto eu durmo pelos "alienígenas fazedores de música"? (risos)

Há cinco anos atrás, quando resolvi montar minhas próprias versões das músicas foi pra diferenciar o meu trabalho em relação aos outros DJs. Era como se fosse meu talismã da sorte pra manter os pseudo-djs longe. Eles não têm e jamais terão muitas versões que montei. Mas soltei algumas na internet depois de já estarem batidas. Eu crio batidas e instrumentações novas no meu computador e aplico sobre essa base a música que vou remixar ou a acapela. Gosto de pedais mais potentes e graves com teclados marcantes.

Quanto ao publico, são poucos os que percebem quando a música que está tocando foi remixada por mim ou não. Alguns gostam, mas não se importam muito, no máximo procuram meus remixes na internet ou me enviam e-mails pedindo as versões. Já os que não gostam (que são poucos) descem o pau em mim, anônimos, escondidos atrás de seus computadores. Ai eu já não sei se é inveja ou recalque, mas covardia eu sei que é.

NLDJ - Para você, qual seria o set-list perfeito?

Cesar Machia: 
1- Rod Stewart - Do Ya Think_I’m Sexy (Peter Rauhofer Mix)
2- Solar Sun - Sex & Tribal (Original Mix)
3- Mis-Teeq - One Night Stand (Eddie Baez Club Mix)
4- Mike Vieira - Guerrilla Suburbana (Original Tribal Mix)
5- Simply Red - Home (Minimal Chic vs C’Machia Tribal Rework)
6- David Vendetta - Cleopatra (Side B 1)
7- Togo - Arem (Full Vocal Mix)
8- D Formation - Signs And Portents (Original Version)
9- Seal - Killer 2005 (Peter Rauhofer Remix, Part 2)
10- DJ Will Beats - I Like (C’Machia Remix)

Obs1: Nessa lista estão as músicas que eu realmente gostaria de estar tocando e adoraria ouvir numa pista de dança. Mas seu eu tocá-las, nessa sequência, provavelmente levarei uma "latada" no meio da noite. (rs...)

Obs2 : Simply Red - Home (Minimal Chic vs C’Machia Tribal Rework): é um remix feito em cima da versão remix original Minimal Chic. Apliquei apenas uma base tribal mais marcante e teclados nos refrões. A instrumentação original foi mantida como no meu remix de Toxic da Britney.

- DJ Will Beats - I Like (C’Machia Remix): remix unreleased ainda aguardando a aprovação do selo pra talvez ser lançado em vinil.

NLDJ: Conte uma cena, uma situação inesperada que tenha ocorrido com você na noite:

Cesar Machia: Já aconteceram coisas muito desagradáveis comigo na cabine de som, mas as coisas boas que aconteceram comigo são incontáveis. Vou citar dois ocorridos, um de cada situação pra equilibrar os fatos.

Em junho de 2001 duas semanas depois da festa de 5 anos da The Club eu observei um cliente que chegava pela porta de vidro da cabine. Eram mais ou menos 2:00 h da manhã. Nisso o DJ Ricardo NB me pediu pra tocar, pois ele queria ir ao banheiro. Alguns minutos depois esse mesmo cliente encostou do lado da cabine de som e me chamou. Ele me pediu pra tocar uma música que já havia tocado uns 20 minutos antes dele chegar na boate. Pois bem, expliquei que seria meio complicado repetir a música naquela hora e que talvez no final da noite eu a tocaria denovo. Mas ele se recusava esperar até o final da noite pra ouvir a música repetida e começou a me ofender. A música que estava tocando estava quase terminando e eu precisava encerrar o assunto e voltar a trabalhar. Pedi pra que ele fosse paciente e licença, pois a música estava acabando. Irritado ele me disse: "o seu som é uma merda seu FDP", cuspiu na minha cara e saiu empurrando todo mundo na pista de dança. Nesse momento eu não consegui pensar em mais nada. Eu não sabia se chamava os seguranças pra resolver o assunto ou se apertava o play pra soltar a próxima música. Foi frustrante e constrangedor mixar a outra música com cuspe escorrendo no meu rosto. Omiti o fato pra direção da casa pra evitar maiores problemas com esse cliente.

Um ano depois por perto do sexto aniversário da The Club, duas semanas antes pra ser mais preciso, eu lancei o The Club Six Years Megamix. Esse megamix tinha exatamente 30 minutos cravados, feito com os principais sucessos da The Club desde sua inauguração em 1996 seguindo uma linha do tempo até o último hit vigente na época. Trinta minutos antes do show eu parei a pista e anunciei o lançamento do megamix. Foi emocionante. O megamix era composto de 33 músicas e a cada virada de música a pista se manifestava aos gritos. No final do megamix eu o Silvio e o DJ Ricardo NB estávamos emocionados na cabine de som e o público nos aplaudiu. Duas semanas depois na festa de Seis Anos da The Club a casa estava lotada quebrando o recorde de publico com 3.200 pessoas dançando meu som e do Ricardo NB. Tocamos chorando quase o tempo todo essa noite. Foi uma honra ter dividido a cabine de som com o DJ que inventou a The Club e ter tocado com ele nos quatro melhores anos do clube.

César Machia toca no reveillon da Le Boy, no Rio de Janeiro.
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