A Casa Triângulo apresenta até o dia 16 de julho a exposição “Young Male: Fotografias de Alair Gomes”, sob a curadoria de Eder Chiodetto. Nela estão expostas fotos das coleções de Robson Phoenix e Fabio Settimi, obras das séries “Symphony of Erotic Icons”, “A Window in Rio“, “Viagens (Europa, Arte)” e um conjunto de 40 imagens realizadas por Alair em um único ensaio, com um mesmo rapaz, em seu apartamento em Ipanema. Alair Gomes é hoje considerado um dos principais nomes da fotografia brasileira e sua obra, que conta com mais de 170 mil negativos, vem sendo reconhecida cada dia mais em muitas exposições importantes Brasil a fora.
Alair de Oliveira Gomes (Valença, RJ, 1921 - Rio de Janeiro, RJ, 1992) foi um engenheiro (civil e eletrônico), fotógrafo, professor, e crítico de arte e cultura brasileiro. Apesar de sua atuação intelectual em várias áreas, hoje em dia seu nome é mais conhecido pelo trabalho como fotógrafo, especialmente devido às fotos de corpos masculinos seminus, tiradas nos anos 70 e 80, com carga homoerótica. Hervé Chandès, diretor da Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, afirmou, em 1991: “Em nus masculinos, não há nada hoje comparável no mundo da fotografia ao trabalho deste brasileiro”.
Seus primeiros contatos com uma câmera fotográfica ocorreram em 1965, durante uma viagem à Europa, quando um amigo lhe emprestou uma Leica. Entretanto, com intenções mais amplas, a primeira incursão na fotografia ocorreu com a compra, no ano seguinte, de sua primeira câmera. Foi em 1966 que o artista começou a aventurar-se na fotografia de rapazes na rua, produzindo longas sequências que o tornariam um dos precursores do homoerotismo fotográfico no Brasil.
As fotos de rapazes nas praias do Rio, especialmente as produzidas entre os anos 70 e 80, são hoje o trabalho mais conhecido de Gomes. A maioria dessas imagens foram obtidas secretamente, a partir de seu apartamento, situado no sexto andar de um prédio da Rua Prudente de Moraes, em Ipanema, e cujos fundos propiciavam uma vista para a praia. Apenas uma minoria das fotos eram posadas, a pedido do artista. Apesar de as fotos com o tema do corpo masculino serem hoje sua faceta mais conhecida, seu trabalho fotográfico abrangia também muitas paisagens, vegetais, celebridades e cenas do carnaval. Suas fotos também retratam aspectos da época, do bairro de Ipanema, em tempos bem menos massificados do que hoje em dia.
Alair Gomes dedicou-se à fotografia nos últimos 26 anos de sua vida e produziu um conjunto de aproximadamente 170 mil negativos cujo tema central é a beleza do corpo masculino. De teor confessional e narrativo, o sentido de sua poética é construído, sobretudo, no processo de edição e de organização desse material. As imagens não são composições autônomas, elas integram sequências montadas com base em noções de ritmo e relações formais estabelecidas entre as fotos.
Gomes classifica e intitula as séries como se fossem peças musicais. Um dos conjuntos mais ambiciosos, Symphony of Erotic Icons é composto de 1.767 fotos de nus masculinos agrupadas em cinco seções: Allegro, Andatino, Andante, Adágio e Finale. Antes de fotografar, trabalha durante dez anos em textos que descrevem minuciosamente o corpo de seus amantes e relatam seus encontros com eles, os Diários Eróticos.
A sinfonia é seguida de uma série de "peças" menores chamadas Sonatinas Four Feet, realizadas entre 1966 e 1986. Nelas, o voyeurismo é acentuado, pois mostram rapazes na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, fotografados a distância com uma teleobjetiva da janela de seu apartamento. Na praia lotada, o artista enfoca os garotos em momentos de lazer, fazendo ginástica ou conversando.
Outro conjunto que merece destaque são os Trípticos de Praia. Nesses trabalhos, há uma maior preocupação em relação à composição e à harmonia entre as fotos, já que a atenção do espectador se detém por mais tempo em cada uma delas. As sombras são duras e marcadas, os exercícios destacam os músculos e a sinuosidade do corpo masculino. A opção pelo tríptico (um formato comum em imagens religiosas) e o fato de algumas fotos serem chamadas de "ícones" sugerem a devoção ao tema eleito. Segundo o crítico Christian Caujolle: "Para Alair, a sexualidade e a beleza representam a essência do ser humano e sua melhor possibilidade de contato com o divino".
Alair Gomes morreu em 1992, aos 70 anos de idade e sem que sua arte tivesse ganho reconhecimento. Foi encontrado em seu apartamento após ser assassinado por um dos modelos que posava para suas lentes. O autor do crime segue até hoje desconhecido.