Em 11 de dezembro de 2008, Bettie Page, a pin-up por excelência, partiu deste mundo deixando em seu rastro milhares de fantasias. Page pode ser considerada hoje a rainha do bondauge e do burlesco nos anos 40, a modelo cujas imagens sensuais reproduzidas em larga escala fascinaram os americanos e o mundo e ajudaram a provocar a revolução sexual das décadas seguintes e acabou por tornar-se ícone para eternidade.
Em 2005 foi produzido pelo canal pago HBO o filme "The Notorious Bettie Page", onde a atriz Gretchen Mol personificou o mito Bettie Page numa atuação elogiada pela crítica, mas pouco vista pelo público. Esta semana, vasculhando a rede mundial de computadores, consegui assistir o filme na integra e indico aqui para os Leitores e Leitores fãs não somente de Bettie Page, mas também de todo o fundamento pinu-up de ser a cinebiografia da rainha de todas as pinu-ups: Bettie Page.
O filme em sí não segue especificamente toda a vida de Bettie Page, deixando muitos acontecimentos de fora. Porém, é altamente criativo quanto a mostrar o nascimento da dominatrix que se tornou Bettie Page e como ela lidava com isso. De maneira ingênua, talvez nunca soube ao certo o quão importante foram as suas fotos para trazer a tona toda uma discussão quanto as várias formas de prazeres sexuais.
Bettie Mae Page, pioneira da estética sado-masoquista, posava com pouca roupa para a moral conservadora da época, sempre cercada de elementos fetichistas. Tanta ousadia e exibicionismo geraram interesse do Senado norte-americano, que decidiu devassar a vida de Page, moça de origem simples de Nashville, sul dos Estados Unidos, que foi criada sob forte rigidez religiosa. Casou ainda adolescente, sofreu agressão em casa e foi vítima de estupro coletivo. Decidiu que era hora de partir para Nova York e tentar a carreira de atriz. Mas o sucesso veio mesmo quando começou a fotografar para revistas masculinas, misturando com toda a naturalidade possível malícia e ingenuidade, religiosidade e erotismo.
Page combinou doçura e sexualidade em uma - hoje lendária - série de fotografias durante os anos 50, incluindo o pôster central na primeira revista Playboy, que a chamou de "modelo do século". "Nunca entendi como alguém inventou que essas poses eram sensuais. Ficar amarrada? Eu acho que não", afirmou.
Em 1958, no auge de sua fama, Page sumiu da vista do público e encerrou seus dias como modelo. Tornou-se uma cristã carismática, mas precisou lutar contra a depressão e os vários problemas no casamento. Em 1992, deixou um hospital psiquiátrico na Califórnia, onde havia sido diagnosticada como paranóica esquizofrênica. Faleceu aos 85 anos, em 11 de dezembro de 2008, de pneumonia, uma semana após sofrer um ataque cardíaco do qual não recobrara a consciência, entrando em coma.